CV e PCC se expandem na Amazônia e transformam o tráfico em "narcogarimpo"

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O avanço das facções criminosas na Amazônia tem transformado a região em um dos principais palcos da disputa entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Relatórios do Ministério da Justiça e de órgãos de segurança apontam que as duas maiores organizações do país consolidaram presença nas fronteiras do Brasil com Peru e Colômbia, controlando rotas de tráfico internacional de cocaína e ampliando sua atuação para atividades como o garimpo ilegal e a lavagem de dinheiro.

O CV, historicamente ligado às favelas do Rio de Janeiro, encontrou na Amazônia um território estratégico para a chamada "Rota do Solimões", principal corredor fluvial de escoamento de drogas vindas dos países andinos. A facção tem se aliado a grupos locais e estrangeiros, inclusive dissidentes das Farc, para dominar áreas próximas à Tríplice Fronteira. Além do tráfico, o grupo expandiu seu poder econômico com o chamado "narcogarimpo" explorando ouro em Terras Indígenas e usando o metal como meio de lavar recursos do crime.

 

Já o PCC, nascido em São Paulo e hoje com ramificações em mais de 20 países, atua na Amazônia de forma mais silenciosa, com foco logístico e financeiro. A facção paulista opera portos e rotas terrestres usadas para o transporte de drogas até o Atlântico e o Pacífico, além de manter conexões com cartéis internacionais. Em alguns pontos do Norte, há registros de alianças pontuais entre o PCC e grupos menores, mas também de confrontos violentos com o CV pelo controle de comunidades e presídios regionais.

Pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que a disputa entre as facções intensificou-se após a ruptura da aliança entre CV e PCC, em 2016, e empurrou a guerra do tráfico para o Norte do país. Com a ausência do Estado em áreas remotas e o enfraquecimento de políticas de fiscalização ambiental, a Amazônia passou a abrigar um modelo de criminalidade híbrida, que mistura tráfico de drogas, garimpo, contrabando e domínio territorial — tornando-se, nas palavras de especialistas, o "novo centro do crime organizado brasileiro".

Do CV ao PCC, como opera o crime organizado no Brasil?

O Comando Vermelho (CV), a facção mais antiga do país, emergiu em 1979 no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande (RJ), inicialmente batizado de Falange Vermelha. Sua gênese reside na convivência estratégica entre presos comuns e presos políticos da ditadura militar. Foi nesse período que a criminalidade organizada absorveu táticas cruciais de organização, disciplina e reivindicação de direitos. Após a libertação dos militantes políticos, essa estrutura foi capitalizada e rapidamente migrou para o lucrativo tráfico de cocaína nos anos 80, consolidando seu poder nas favelas cariocas antes de se expandir nacionalmente. 

Em contrapartida, o Primeiro Comando da Capital (PCC) surgiu em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté (SP), como uma reação direta ao traumático Massacre do Carandiru. Seus líderes fundadores articularam a facção sob um forte discurso de proteção aos presos contra a violência do Estado. O PCC se distingue pela sua estrutura hierárquica rigorosa e pelo seu Estatuto, que impõe disciplina e lealdade inquestionáveis a seus membros. A partir dos anos 2000, o grupo paulista consolidou-se como um ator global, dominando a logística do tráfico internacional (notadamente via Porto de Santos) e expandindo-se agressivamente pelo Brasil e pela América Latina.

A aliança tática que uniu CV e PCC por anos foi desfeita em 2016, deflagrando uma guerra aberta e brutal por territórios e rotas de tráfico. Essa ruptura se espalhou por presídios e áreas urbanas, especialmente no Norte e Nordeste, onde facções regionais foram forçadas a se alinhar com um dos dois gigantes.

Mais recentemente, o CV tem demonstrado um processo de "milicialização do tráfico" no Rio de Janeiro. Aproveitando o enfraquecimento das milícias, a facção avançou sobre seus territórios e incorporou suas práticas de extorsão e controle social. Além de dominar o tráfico de drogas, o CV passou a cobrar taxas por serviços essenciais (como gás, internet e água) e a impor as chamadas "taxas de barricada", estabelecendo um domínio territorial e econômico muito mais abrangente e lucrativo do que a simples venda de entorpecentes.

 

Por Portal Do Holanda

 

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