Símbolos: os códigos utilizados pelas facções criminosas no Amazonas e proibidos para os cidadãos das periferias

SIMCOM
0

 


No estado da Bahia, a morte de um jovem turista por conta de um símbolo utilizado por uma facção criminosa em uma foto na rede social gerou repercussão no país inteiro. O jovem Henrique Marques de Jesus foi assassinado no Ceará, em 10 de dezembro de 2024 , após tirar uma foto fazendo um gesto com “3 dedos” na mão, código gestual utilizado pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Já Marcos Vinícius Alves Gonçalves foi assassinado na última segunda-feira (06), na Bahia, após postar uma foto fazendo um símbolo de “três dedos” também usado pela mesma facção naquele Estado. E duas jovens, no Mato Grosso, também foram assassinadas por uma foto postada em suas redes sociais, com o mesmo gesto.

E no Amazonas? Quais os símbolos e dialetos sociais usados pelas facções que podem colocar os cidadãos comuns em meio a uma guerra entre organizações criminosas? O Radar foi atrás e apurou de que forma esse dialeto se manifesta em nosso Estado.

Facções

Atualmente, o Amazonas possui quatro facções criminosas predominantes. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2024, o Amazonas tem disputa entre o Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), Família do Norte (FDN) e Cartel do Norte (CDN).

Ocorre que, desde muito tempo, e atualmente, há uma espécie de remodelagem cultural dessas facções. A Família do Norte, por exemplo, está considerada extinta. Isto porque, os membros desta facção que não foram aceitos no Comando Vermelho (CV) entraram no grupo já denominado como Cartel do Norte (CDN). Segundo a fonte do Radar- que não pode ser identificado-, “existe também o RDA – Revolucionários do Amazonas- que tem “uma boca no Bairro da União e cerca de 30 presos no pavilhão do presídio-”.

Apesar do RDA e do CDN [Revolucionário do Amazonas e Cartel do Norte] serem facções locais e “menores”, seus dialetos são, em sua maioria, ligados ao PCC. Ao que tudo indica, estes grupos se conectam a esta facção para manterem seu domínio econômico sobre o tráfico em suas áreas.

Desta forma, em Manaus, a maioria dos dialetos presentes nas bocas de fumo da capital amazonense podem ser concentrados no dialeto das duas grandes facções brasileiras: Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital.

Presídios e invasões de Manaus

Essa maior “representatividade” das duas facções [C.V. ou PCC] também pode ser visto como um reflexo no presídio manauara também. No Centro de Detenção Provisória de Manaus II, um dos presídios em Manaus, a maioria dos pavilhões onde possuem faccionados (presos membros de facção) já estão centralizados nestas duas bases: no Comando Vermelho (CV) ou Primeiro Comando da Capital (PCC).

Sobre as comunidades, em Manaus, a fonte, que é agente penitenciário e testemunha diariamente a guerra entre facções, mas que teme represálias, continua:

“Manaus é maioria do Comando Vermelho. Os bairros que não são, que ainda resistem ao domínio total são: a comunidade Nossa Senhora de Fátima, Valparaíso (Jorge Teixeira), e Carbrás (no Tarumã) que ainda são PCC, e que constantemente têm registros de homicídios por conta da guerra do tráfico. Inclusive, os aplicativos [motoristas] que forem deixar ou pegar clientes nestas áreas têm de ligar o pisca alerta, e rodar com vidros baixos, senão o crime pode atirar, principalmente à noite. Viu as pichações nos muros, é baixar os vidros por segurança.”, conta a fonte.

A pichações nos muros a que o agente se refere está na maioria dos bairros em Manaus. E essa demarcação, na entrada dos bairros já expõe os dialetos de quem tem o domínio por meio de pichações, como nesta foto, onde as duas facções picharam toda a parede de uma casa, em Manaus, até a Polícia Militar cobrir os dialetos, na comunidade Nossa Senhora de Fátima, no bairro Mutirão.

Tudo 2 ou tudo 3

Nos dialetos de imagens do Comando Vermelho – facção nascida no Rio de Janeiro-, a expressão “é nós” é bastante usada, seguida do número 2. “Tudo 2” é uma gíria bastante utilizada pelos membros da facção. Antes, eles faziam com duas mãos o C e o V , mas por ser muito trabalhoso, e nos stories (do Instagram) se postava só uma mão, já que a outra seguraria o armamento, acabou o V se tornando mais usual, no caso o 2 com uma das mãos se refere ao CV.

símbolo utilizado pela facção C.V.
os casos do Primeiro Comando da Capital (PCC)- nascida em São Paulo- a maior rival do CV ao redor do Brasil e Amazonas, o sinal de “3” com as mãos, representa a organização criminosa PCC. Ela pode ser utilizada de três formas, como nas seguintes imagens:

Aqui no Amazonas, o sinal de mão com 3 dedos pra cima e o C com a outra mão é o TCP (Terceiro Comando Puro). Que é um grupo de aliados do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Essa guerra se estende até os costumes, por exemplo: quem é C.V. costuma usar tênis da marca Nike, pois traz um símbolo da vírgula, que lembra uma letra C. Já os adeptos do PCC gostam de usar Adidas, por conta das três listras (“Tudo 3”).

Nos muros, TD3 (Tudo 3, PCC) e TD2 (Tudo 2, CV) são algumas das pichações que marcam os territórios e as zonas de domínio das facções. No caso do “Tudo 3” às vezes vem acompanhado do número 15.33, que também significa um código da facção.

No caso do C.V., vem a sigla completa – C.V.R.L. – Comando Vermelho Rogério Lemgruber – o fundador da facção.

As comunidades controladas pelo CV usam gírias como “é nós” e o Terceiro Comando, por sua vez, usa “é a gente”. São frases parecidas, mas que se forem faladas em comunidades dominadas pela facção rival, podem levar à morte, assim como as simbologias com as mãos, que reforçam simultaneamente o sentimento de comunidade íntima e a divisão territorial em grupos.

É bom lembrar que todos estes símbolos, costumes das facções no Amazonas em sua maioria vieram dos morros e favelas destes outros estados, onde saem os maiores comunicados e orientações ao restante do país, atingindo as comunidades.

 FONTE: RADAR AMAZONICO

 FOTO: DIVULGAÇÃO

Postar um comentário

0 Comentários
Postar um comentário (0)

#buttons=(Ok, Go it!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Check Out
Ok, Go it!
To Top